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Mensagem alusiva à comemoração do 7º. Aniversário da ADASCA

Quando preparava esta mensagem, alusiva ao 7º. Aniversário da ADASCA, única Associação de Dadores de Sangue do Concelho de Aveiro, legalmente constituída conforme o Diário da República, 2ª. Série—Nº. 110—8 de Junho de 2007 li com emoção o seguinte: “Certifico que, por escritura de 7 de Fevereiro de 2007, iniciada a fl. 143 do livro de notas para escrituras diversas nº. 39-G do Cartório Notarial de Aveiro, a cargo da notária Maria Deolinda de Almeida Rolo, foi constituída uma associação com a denominação em epígrafe, com sede na freguesia da Glória, concelho de Aveiro, (…) e o seu objecto consiste na assistência médica e social a dadores e ex-dadores de sangue, a promoção de campanhas de sensibilização para novos dadores e promover campanhas de colheitas de sangue.

Fazendo uma curta avaliação dos sete anos que decorreram, fico com a sensação de que, quase nada foi feito, quando na verdade podíamos ter ido mais além se tivéssemos mais apoios, tendo em conta a sua natureza pública e social. Sete anos de satisfações e insatisfações, de vitórias e derrotas, de encontros e desencontros, acção e inacção, motivação e desmotivação, a lista seria longa, na medida em que cada um vive os acontecimentos de forma diferente e assim somos vistos, sempre com o sentimento da marginalização a que o ministério da saúde nos votou, quando decidiu retirar a isenção das taxas moderadoras aos dadores de sangue nos hospitais, principal causa que motivou a quebra de dádivas a nível nacional, em particular no Concelho de Aveiro. A publicação do Decreto-Lei N.º 113/2011, de 29 de novembro vai ficar sempre na nossa memória pelas piores razões.

A “Intenção sem acção é ilusão” escreveu Lair Ribeiro. O projecto que motivou a fundação da ADASCA há sete anos, bem podia ter ficado pela intenção, seria mais um que não passaria do papel, mas, isso não aconteceu. Essa era a previsão de algumas pessoas desta cidade. Tanta dedicação, com sacrifícios financeiros, pessoais e familiares a ADASCA está firme como uma rocha, ainda que as tempestades surjam de tempos a tempos, aliás, tornou-se cobiçada.

Sem pretender ser exaustivo na apresentação dos resultados obtidos nos decorridos 7 anos de existência, nem o momento é o indicado, a título de informação a ADASCA no ano transacto realizou cerca de 90 brigadas, destas resultaram cerca de 2789 inscrições, 2164 dádivas aprovadas, 625 suspensões temporárias, representando a ADASCA nesta data cerca de 3376 dadores associados de pleno direito.

“Toda acção humana, quer se torne positiva ou negativa, precisa depender de motivação” na opinião de Dalai Lama. O que notamos é que a desmotivação e a indiferença andam por ai de mãos dadas. A Direcção da ADASCA tem sido atingida por estes dois sentimentos demolidores, até pela forma como nos sentimos desconsiderados, julgamos que somos dignos de mais respeito considerando que todos somos voluntários.

“Para criar inimigos não é necessário declarar guerra, basta dizer o que pensa” Martin Luther King. Ora nem mais: O ministério da saúde e por sua vez o IPST tem feito de nós bonecos articulados e sujeitos à sua obediência.

A ADASCA foi confrontada com cancelamento de duas sessões de colheitas de sangue, agendadas para os dias 11 e 25 de Janeiro no seu Posto Fixo, com a justificação de que havia componentes sanguíneos a mais em stok, quando na verdade a principal causa estava relacionada com a falta de recursos humanos.

Com o universo de dadores associados, a ADASCA bem podia ter em cada sessão de colheitas na ordem de 50 a 60 presenças no seu Posto Fixo, o que verificamos é triste: “retiraram-nos as isenções das taxas moderadoras nos hospitais, nunca mais dou sangue”. Famílias inteiras deixaram de comparecer, o que nos deixa contristados.

Os responsáveis directivos do IPST não dialogam com as associações, apenas nos transmitem ordens, como de funcionários se tratasse. Vivemos num autismo completo. Corro o risco de dizer que o IPST está a deixar muito a desejar, não agrada aos dadores de sangue nem às associações, tudo funciona de candeias às avessas. Existem dirigentes associativos com medo de falar do que não concordam com receio de perderem os apoios financeiros. Este paradigma não serve uma causa que todos dizem defender.

Com a retirada das isenções das taxas moderadoras nos hospitais aos dadores de sangue, o ministério da saúde destruiu todo um trabalho que levou dezenas de anos a construir. Sobre esta destruição da parte da direcção do IPST nem uma tomada de posição, aliás, pelo que nos é dado saber até concorda. Por fim, a forma como tem vindo a ser comemorado o Dia Nacional do Dador de Sangue e por sua vez o Dia Mundial do Dador de Sangue, colocou ainda mais à distância destes eventos os dadores e as suas associações, o que provocou ainda mais o sentimento de marginalização.

A falta de auto-suficiência de sangue em Portugal, deve-se unicamente ao ministério da saúde e por sua vez ao IPST, que nada fazem para alterar a situação, ora isto deixa-nos desmotivados, com a agravante de sermos rotulados de terroristas de sangue, como se pôde ouvir no dia 08 Abril de 2012 em declarações pelo Dr. Hélder Trindade na RTP. Não podemos fazer um exercício de hipocrisia para agradar a quem quer que seja, porque a realidade é delicada e devia incomodar a todos os que tem responsabilidades nesta área.

Lamentamos que os responsáveis directos da destruição que tem vindo a ser executada, tenham optado pela decisão mais fácil: delegar em outrem a sua presença, deixando-nos a falar para o “boneco”, este é o respeito que merecemos.

Joaquim Carlos
Presidente da Direcção da ADASCA

Aveiro, 8 de Fevereiro de 2014

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=543193&tm=8&layout=122&visu... (terroristas de sangue, declarações do Hélder Trindade).